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ESTUDO SOBRE ZACARIAS
ESTUDO SOBRE ZACARIAS

Zacarias, o Reino Messiânico

 

I - Genealogia e Missão – Na introdução do seu livro lemos que Zacarias era “filho de Baraquias, filho de Ido” (Zc 1:1, 7). Entretanto, em Esdras 5:1 e 6:14 édito que ele era “filho de Ido” e, contudo, trata-se do mesmo profeta em ambas as passagens. Na última é dado a entender que ele foi contemporâneo de Ageu, o que está de perfeito acordo com as datas atribuídas às profecias destes dois videntes, em seus respectivos livros (Ag 1:1 e 2:10. Zc 1:1,7). Porque a sua missão era em geral a mesma, isto é, induzir o povo a reedificar o Templo. Zacarias, provavelmente, era mais jovem do que Ageu (Comparar Zc 2:4; Ag 2:3) e um homem de inusitada visão, quase sem paralelo. Sendo sacerdote, bem como profeta (Ne 12:16) e cabeça da “casa paterna”, sua influência era muito grande. Seu nome, sem dúvida, demonstra dotes especiais, pois em Hebraico significa “Aquele de quem Javé se agrada”.

II - Caráter geral do livro - Existem poucos livros no Velho Testamento tão difíceis de interpretar como o de Zacarias. Os expositores judeus, tais como Abarbanel e Jarchi, e os expositores cristãos, como Jerônimo, são forçados a confessar que “nenhum dos homens de força achou as próprias mãos” na exposição das visões do profeta (usando um modismo hebraico, exposto no Salmo 76:5) e que foram de um labirinto a outro e de uma nuvem a outra, até se perderem. Por certo o alcance da visão do profeta e a profundidade espiritual do seu pensamento exigem uma reflexão mais séria. Com efeito não é exagero afirmar que de todas as composições proféticas do Velho Testamento, as visões de Zacarias são as mais messiânicas e, por conseguinte, as mais difíceis, visto como estão mescladas e entremeadas de muito do que é apocalíptico e escatológico.

III – Seu tempo - A data mais remota em seu livro é “o segundo ano de Dario”, isto é, de Dario Histaspes, ao que se sabe 520 a.C., e a mais tardia, “o ano quarto” do reinado deste rei (Zc 1:1,7; 7:1). Contudo, presume-se ser possível que o profeta tenha continuado exortando, pelo menos até que o Templo foi concluído, no ano 516 a.C. (Ed 6:15). As circunstâncias e condições sob as quais Zacarias trabalhava eram em geral as do tempo de Ageu, visto como este começou justamente dois meses antes de Zacarias (Comparar com Ag 1:1 e Zc 1:1). Era o ano 520 a.C. Por esse tempo, houve repetidos transtornos e comoções em toda a longitude e latitude do império persa. A declaração de Zc 1:11 de que “...toda a terra está tranqüila e quieta” era verdadeira apenas no sentido de que havia cessado toda a oposição aos judeus quanto à reedificação do Templo. Quando Dario subiu ao trono em 521 a.C., conforme é bem conhecido, muitas das tribos - que haviam sido forçadas a submeter-se ao domínio persa sob Ciro e Cambises - rebelaram-se. Insurreições eclodiram em toda parte do império, especialmente ao noroeste, e Dario teve de lutar 19 batalhas, antes que essas tribos rebeldes fossem subjugadas. Contudo, as predições de Jeremias a respeito do domínio da Babilônia por “70 anos” haviam se cumprido (Jr 25:11; 29:10) e 42.360 judeus haviam regressado a Jerusalém, em 536 a.C., sob a liderança de Zorobabel e Josué. A obra do Templo havia sido iniciada, mas a oposição que os seus vizinhos haviam feito atrasou a conclusão do edifício sagrado, levando os judeus a se desanimarem e se entristecerem por não conseguirem restaurar Sião. Havia muito que os alicerces do Templo foram colocados, mas até ali nada havia sido edificado sobre os mesmos (Ed 3:8-10 e Zc 1:16). O altar dos holocaustos havia sido erguido sobre o sítio anterior, mas até então não havia sacerdotes dignos de oficiar no ritual do sacrifício (Ed 3:2,3 e Zc 3:3). O povo havia se tornado apático e era necessário despertá-lo para a obrigação de terminar o santuário. Ageu já os havia animado a prosseguir (Ag 1:1,15), porém foi deixada a Zacarias a tarefa de fazer com que a reedificação do Templo se tornasse uma realidade. Nisso ele teve êxito, pois a Casa foi concluída “no sexto ano do reinado do rei Dario” (Ed 6:14,15), ou seja, no ano 516 a.C.

IV - O Espírito Santo em Ação

O versículo mais freqüentemente citado do AT em referência à obra do ES é 4.6. Zorobabel é confortado na segurança de: 1) que a reconstrução do templo não será por força militar ou por proeza humana, mas pelo ministério do Espírito Santo; 2) que o Espírito Santo removerá cada obstáculo que está no caminho, que impede a conclusão do templo de Deus.

Um triste comentário em 7.12 recorda ao povo sua rebelião contra as palavras do Senhor pelos profetas. Essas palavras foram transmitidas pelo Espírito Santo.

Esboço de Zacarias

I. O chamado ao arrependimento 1.1-6

II. As oito visões 1.7-6.15

O homem e os cavalos 1.7-17

Os quatro chifres e o ferreiro 1.18-21

O homem com um cordel de medir 2.1-13

O sumo sacerdote 3.1-10

O castiçal e o vaso de Azeite 4.1-14

O rolo voante 5.1-4

A mulher no meio do efa 5.5-11

Os quatro carros 6.1-8

III. A coroação do sumo sacerdote 6.9-15

IV. Ritual religioso ou arrependimento verdadeiro? 7.1-14

V. A restauração de Sião 8.1-23

VI. O triunfo de Sião 8.1-23

A primeira profecia: O Messias rejeitado 9.1-11.17

A Segunda profecia: O Messias Reina 12.1-14.21

V - Análise e conteúdo

- As profecias de Zacarias normalmente se dividem em duas partes: capítulos 1-8 e 9-14, ambas começando no presente e contemplando, apocalipticamente, o futuro.

1.Os caps. 1-8 consistem em três mensagens distintas, pronunciadas em três ocasiões separadas.

a)Os Caps. 1:1-6 - São uma introdução pronunciada no oitavo mês do segundo ano de Dario (520 a.C.). Ela fornece a tônica de todo o livro, sendo uma das apelações mais fortes ao arrependimento e uma das mais intensamente espirituais que se podem encontrar no Velho Testamento.

b)Os Caps. 1:7 a 6:15 - Mostram uma série de oito visões simbólicas de noite, seguida de uma cena de coroação. Ela foi toda pronunciada no dia 14 do undécimo mês do segundo ano de Dario, ou seja, exatamente dois meses após a colocação dos alicerces do Templo (Ag 2:18; Zc 1:7). Essas oito visões tiveram como objetivo animar a colônia que havia regressado do cativeiro a continuar e completar a construção da Casa de Deus, dando, respectivamente, as seguintes lições:

b-1 Os mensageiros celestiais - (Zc 1:7-17) - mostrando o cuidado especial de Deus pelo seu povo, o qual afirma explicitamente: “Nela [Jerusalém] será edificada a minha casa” (Zc 1:16).

b-2 Os quatro chifres e os quatro carpinteiros - (Zc 1:18-21), ensinando que os inimigos de Israel finalmente terão sido destruídos por meio de guerras e que não haverá oposição à construção da Casa de Deus.

b-3 Um homem que tinha na mão um cordel de medir - (cap. 2) – ensinando que Deus voltará a povoar e proteger Jerusalém e nela habitará, fazendo com que a cidade se estenda, até se tornar uma metrópole sem muros ao seu redor. De fato, o próprio Javé será a glória no meio dela, com um muro de fogo ao seu redor.

b-4  Josué, o sumo sacerdote, vestido de vestes sujas - (levando os seus próprios pecados e os do seu povo - cap. 3) - ensinando que o sacerdócio será purificado, continuado e tornado mais típico do Messias, o varão que há de vir, em cujo dia a iniqüidade da terra será completamente aniquilada.

b-5 O castiçal de ouro e as duas oliveiras - (cap. 4) - Ensinando que o visível terá de ceder lugar ao espiritual e que pelos “dois ungidos”, isto é, Zorobabel, o leigo, e Josué, o sacerdote (v. 14), arderá a luz divina com esplendor brilhante e que não será “...por força nem por violência, mas pelo meu Espírito” (v.6) que esta Casa realizará o seu objetivo.

b-6 - O rolo volante – (Zc 5:1-4) - Ensinando que Deus tem pronunciado em sua lei uma maldição contra a iniqüidade e que Ele “pensa” em destruir todos os pecadores.

b-7 (Zc 5:5-11) - Descrevendo a iniqüidade como personificada e levada longe demais, até a terra de Sinear, dizendo que quando o Templo for reedificado, o pecado será realmente excluído da terra [Isso só pode referir-se de fato ao reinado do Messias Jesus Cristo].

b-8 - Os quatro carros - (Zc 6:1-8) - Saindo da presença do Senhor de toda a terra e ensinando que a providência protetora de Deus estará sobre o seu povo e o seu santuário, mesmo quando os muros da cidade necessitem de um Neemias para os reconstruir. Esses versos são seguidos de uma cena de coroação (Zc 6:9-15), na qual o sacerdote Josué é coroado e feito Messias – Varão, Sacerdote e Rei. Este é o retrato mais perfeito e completo do Messias vindouro, do qual se fala em todo o Velho Testamento.

c) Os caps. 7-8 - São a resposta de Zacarias à comissão de Betel sobre o jejum, pronunciada no quarto dia do nono mês do quarto ano de Dario, ou seja, 528 a.C.. Desde a queda de Jerusalém, em 586 a.C., os judeus haviam se acostumado a jejuar nos aniversários de quatro notáveis acontecimentos de sua história:

1. - Quando Nabucodonosor ocupou Jerusalém, no quarto mês (Jr 52:6).

2. - Quando o Templo foi queimado, no quinto mês (Jr 52:12).

3. – Quando Gedalias, o governador, foi assassinado, no sétimo mês (Jr 41:1-2).

4. – Quando começou o sítio a Jerusalém, no décimo mês do nono ano de Nabucodonosor (2Rs 25:1). Em sua resposta à comissão de Betel, diz enfaticamente o profeta que “os jejuns de Israel serão como festas, muitas nações se unirão aos judeus, a fim de buscar o Senhor dos Exércitos em Jerusalém” (Zc 8:18-23).

d) Os caps. 9-14 – constituem a segunda parte do livro e são “o peso da palavra do Senhor contra a terra...”, oráculos sem data.

d-1 Os caps. 9-11 - São um oráculo de promessa com relação à nova teocracia. Em geral esta seção contém promessas de uma terra onde morar, uma volta ao cativeiro, à vitória sobre uma potência hostil universal [Roma], e também bênçãos temporais e força nacional, concluindo com uma parábola de juízo causado pela apostasia de uma parte de Israel contra Javé e o seu pastor. Mais especificamente, no cap. 9, essas promessas se destinam a um Judá e a um Efraim restaurados, unidos e tornados vitoriosos sobre os seus inimigos, prometendo-lhes uma terra e um rei. No cap. 10, Israel há ser salvo e fortificado. No cap. 11, Israel há se de ser castigado por abandonar o cuidado especial com Javé.

d-2 Os caps. 12-14 - contêm um oráculo que descreve as vitórias da nova teocracia e o Dia (vindouro) do Senhor - Esta seção é enfaticamente escatológica e apresenta três distintas descrições apocalípticas. No cap.12, de como Jerusalém será sitiada pelos inimigos, mas salva pela intervenção de Javé. No cap. 13, Zacarias fala de como um remanescente será salvo. No cap. 14, vemos como as nações, após terem sitiado e ocupado a cidade, correrão até Jerusalém, a fim de se unirem na guarda e no gozo da Festa dos Tabernáculos. E de como todos, naquele tempo, até mesmo “sobre as campainhas dos cavalos”, “todas as panelas em Jerusalém serão consagradas ao Senhor dos Exércitos”, sendo toda esta seção uma visão apocalíptica de juízo e redenção.

VI - Lições permanentes ensinadas por Zacarias

1. - Como a fé decaída de uma comunidade pode ser reanimada pela pregação de um profeta sincero e fervoroso, o qual, mesmo não sendo um gênio, possui uma grande fé. Zacarias viu a possibilidade de uma repentina e decisiva intervenção da parte de Javé em favor de Israel.

2. - Como, mesmo no tempo de Zacarias, se apelou “aos profetas anteriores” como norma de autoridade (ZC 1:4; 7:12 - Comparar com 2Tm 3:16-17). Parece que os seus escritos já estavam se tornando canônicos.

3. – Como os judeus, desde o tempo de sua primeira volta, começaram a entender que, algum dia, a verdadeira religião chegaria a ser universal (Zc 2:1; 6:15; 8:23; 14:16).

4. – A reconstrução da Casa de Deus era uma condição indispensável para uma época melhor. (Zc 1:16). O profeta fala com frequência da Casa de Deus, cinco vezes na primeira parte (Zc 1:16; 3:7; 4:9; 7:3; 8:9) e quatro vezes na segunda (Zc 9:8; 11:13; 14:20,21). Não pode existir felicidade social permanente sem a presença da igreja.

5. – Como a contenda de Israel é realmente contra Satanás, seu inimigo espiritual, mais do que com as nações vizinhas (Zc 3:1). Satanás é sempre o maior adversário da igreja.

6. - Como convém aos crentes esperar sempre. Mesmo que a débil luz da igreja possa arder poucas vezes, sem dúvida não há de ser “Por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:6).

7. – Como os jejuns e as festas nada representam em si mesmos. Porque nenhum destes causou ou evitou o cativeiro de Israel. O que Deus exige do seu povo está nos versos Zc 8:16-17: “Estas são as coisas que deveis fazer: Falai a verdade cada um com o seu próximo; executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas. E nenhum de vós pense mal no seu coração contra o seu próximo, nem ameis o juramento falso; porque todas estas são coisas que eu odeio, diz o SENHOR”.

8. - Como Deus tem vontade de pastorear suas indignas ovelhas, tomando o cetro em lugar do simples cajado de pastor, com o objetivo de dedicar-se de maneira incomum ao ofício de pastor. Tão solícito Ele é pelo bem estar do seu povo. (Zc 11:7).

9.- Como o rebanho rebelde se lamentará, logo que reconhecer que está pelejando contra Deus. Como sugeriu Calvino, “Se um pecador não se coloca como se estivesse diante do tribunal de Deus, jamais terá o sentimento de um verdadeiro arrependimento”. (Zc 12:10. Comparar com Jo 19:37).

10. - Como, finalmente, a contenda entre o bem e o mal terminará num dia glorioso para Israel, quando o Messias vier para estabelecer o seu Reino e Javé se tornar o Rei de toda a terra, quando, então, não haverá mais maldição (Zc 14:9-11). Será um dia inesquecível, dia conhecido como O DIA DO SENHOR! Não será dia nem noite, mas sucederá que no tempo da tarde haverá luz. “E acontecerá que, se alguma das famílias da terra não subir a Jerusalém, para adorar o Rei, o SENHOR dos Exércitos, não virá sobre ela a chuva” (Zc 14:17).